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Como a guerra na Ucrânia afeta a transição energética na Europa

A guerra que se iniciou após a invasão da Ucrânia pela Rússia, vem sendo considerada o conflito mais grave no Ocidente desde a Segunda Guerra Mundial, com o presidente russo colocando suas forças nucleares em “alerta especial” dias após a invasão do território ucraniano.

No entanto, além das questões históricas e políticas que levaram ao início do conflito, muito tem se comentado também sobre os possíveis impactos da guerra na transição energética europeia, uma vez que a Rússia é o principal fornecedor de combustíveis fósseis do continente e muitos temem uma possível interrupção no serviço. 

Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo e segundo maior de gás natural do mundo

Atualmente, a Rússia fornece cerca de 40% do gás natural utilizado pela Europa com diferentes fins: para aquecimento de casas e escritórios durante o inverno, para gerar eletricidade pelas termelétricas e também para produção industrial.

Temendo o desabastecimento da região, o governo dos Estados Unidos, grande aliado da União Europeia, anunciou estar trabalhando com fornecedores de gás e petróleo bruto como forma de aumentar o fornecimento para os europeus durante a guerra. Enquanto isso, o preço do barril chegou a passar de US$100 pela primeira vez desde 2014.

Transição energética deve acelerar, mas descarbonização pode sofrer atrasos

Uma grande tendência é que a guerra acelere o processo de transição energética dos países europeus, que deverão investir cada vez mais na diversificação de suas matrizes energéticas, priorizando investimentos verdes, em fontes de energia limpa e renovável, como política não apenas ambiental, mas também de segurança nacional.

“Vamos diversificar nosso sistema energético. Não compraremos carvão e gás russos em tal quantidade no futuro”, afirmou Robert Habeck, vice-chanceler da Alemanha, em entrevista recente à Euronews.

A questão é que esse processo leva tempo e investimento, portanto, em um curto prazo, analistas apontam que existem chances dos países europeus aumentarem a utilização de combustíveis fósseis como forma de garantir a sua segurança energética, o que deve atrasar o processo de descarbonização da Europa e contribuir ainda mais para o aquecimento global. 

Ian Goldin, professor de globalização e desenvolvimento da Universidade de Oxford, alerta ao The New York Times que os altos preços da energia podem levar a uma maior exploração dos combustíveis fósseis tradicionais. “Os governos vão despriorizar as energias renováveis e sustentáveis, o que seria exatamente a resposta errada”, disse ele.

O fato é que, só em janeiro, a União Europeia aumentou em 56% as suas importações de carvão mineral, tipo de combustível fóssil mais poluente do mundo, que pode ser utilizado como alternativa ao gás natural em termelétricas.

Próximos passos para a União Europeia

Em 2019, em Bruxelas, a União Europeia assumiu o compromisso em se tornar o primeiro continente do mundo neutro em carbono até 2050, sendo assim, muitos discutem se os problemas gerados pela guerra podem atrasar os planos do bloco.

Grandes apostas em outras fontes de energia já vinham sendo feitas por países europeus como a Alemanha que, em 2021, anunciou um programa com mais 900 milhões de euros em investimentos para viabilizar a instalação de plantas de hidrogênio verde ao redor do mundo.

Outra alternativa, estudada pelo Reino Unido, é a instalação de cabos de 3.800 quilômetros, submersos no Atlântico Norte, para transportar eletricidade desde o Marrocos, país em que está sendo construída uma das maiores usinas renováveis do mundo, pela empresa Xlinks.
Kadri Simson, comissária de Energia da União Europeia, garantiu que muito em breve será apresentado um plano para reduzir a dependência energética do bloco. Simon disse que a estratégia é diversificar o fornecimento de gás para reduzir a dependência da Rússia no curto prazo, mas também “aumentar as energias renováveis e a eficiência energética o mais rápido possível”, mantendo em vista o compromisso firmado pela União Europeia em neutralizar suas emissões de carbono.

Portanto, ainda é cedo para prever o que irá ocorrer, mas podemos afirmar que a guerra da Rússia contra a Ucrânia criou um novo cenário de grande urgência na busca por alternativas energéticas pelos países da União Europeia, que encontram-se em um momento oportuno para investir em fontes de energia limpas e renováveis, de forma a cumprir os compromissos previamente firmados em Bruxelas.

Fontes: Capital Reset | Euro News | The New York Times | CFR

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