Em tempo algum o mundo presenciou um aumento tão rápido e intenso da produção de resíduos hospitalares como nos últimos dois anos.
Um relatório realizado no ano passado pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) mostra um aumento de 15% na produção de resíduos hospitalares em 2020 em relação a 2019, totalizando 290 mil toneladas. A geração de resíduos domésticos aumentou 4% no mesmo período, contra 1% ao ano em anos anteriores.
Esses dados já são bem impactantes e é provável que eles estejam subestimados. Isso porque, infelizmente, muitos serviços de saúde ainda misturam os materiais ao lixo comum, contrariando as normas vigentes e impondo riscos diretos aos trabalhadores da limpeza, aos catadores de lixo, à saúde pública e ao meio ambiente.
Ao mesmo tempo em que o descarte inadequado desses resíduos durante a pandemia da Covid-19 têm sido alvos de alerta da OMS, o mesmo cenário tem impulsionado as mais variadas iniciativas de reaproveitamento desses materiais por instituições de saúde de ponta no país.
Iniciativas de destaque
Entre os projetos estão a transformação de comida em adubo para a produção de alimentos orgânicos, de roupas de cama e banho em bolsas confeccionadas e comercializadas por costureiras de comunidades carentes, de plásticos de embalagens em protetores faciais e até de resíduos infectantes em cápsulas de energia.
O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), criou um projeto de reciclagem de 100% dos resíduos passíveis de reaproveitamento, em parceria com empresas. Assim, 1 tonelada de plástico de alta densidade foi transformada em 40 mil protetores faciais para profissionais da linha de frente – 90% foram doados a hospitais públicos. Atualmente, o hospital encaminha cerca de uma tonelada de material reciclável por dia para reaproveitamento. Mais de 3.000 panos de TNT vão para associações de costureiras que fabricam sacolas ecológicas. Já o polietileno se transforma em sacos de lixo de 60 litros.Todos os restos de alimentos viram adubo orgânico, utilizado na horta da instituição. Uma parte vai para uma cooperativa, que troca o adubo por arroz orgânico que é preparado no hospital.
A pandemia praticamente dobrou a quantidade de resíduos infectantes que, agora, passaram a ser incineradores e convertidos em cápsulas de energia. A ideia, que ainda depende de parcerias e aprovações ambientais, é transformar essas cápsulas em gás natural para fazer o abastecimento das caldeiras do hospital.
O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, zerou o descarte de resíduos têxteis hospitalares, como uniformes, roupas de cama e banho, em aterros sanitários. Depois de descontaminados, esses resíduos são retirados por ONGs que apoiam costureiras das periferias do Brasil, e transformados em bolsas e sacolas retornáveis, estojos e nécessaires. Em alguns casos, o hospital compra os produtos para distribuição de brindes e doações e, assim, ajuda a promover a economia circular.
O melhor de tudo é que nenhuma dessas iniciativas impacta negativamente a assistência prestada por essas instituições. Ao contrário, elas ainda ajudam a otimizar as entregas e o processo como um todo, utilizando apenas a quantidade necessária de recursos.
A produção de resíduos hospitalares durante a pandemia foi inevitável e a gestão segura deles, de forma geral, já era insuficiente no Brasil mesmo antes da Covid-19. Infelizmente, o país depende muito da consciência do próprio gerador. Que cada vez mais possamos contar com estabelecimentos conscientes!
Fonte: BR Noticias