Na China, até muito pouco tempo, agentes chineses utilizam diariamente incontáveis quantidades de cotonetes descartáveis para realizar testes de PCR em larga escala. Para algumas dezenas de casos positivos detectados todos os dias do gigante asiático, são testadas centenas de milhões de pessoas – com o emprego de tubos, cotonetes, invólucros e combinações de proteção.
A razão é compreensível: monitorar a saúde dos cidadãos chineses para uma nova crescente onda de casos de covid-19. O problema é que tudo isso gerou uma enorme quantidade de resíduos médicos que, como sabemos, quando não descartados adequadamente, contaminam solo e rios.
Não há dados nacionais disponíveis, mas as autoridades de Xangai disseram no mês passado que 68.500 toneladas de resíduos médicos foram produzidas durante o confinamento da cidade entre meados de março e início de junho. Isso representa uma quantidade diária seis vezes maior do que o habitual. “A quantidade de resíduo hospitalar que é gerado diariamente é de uma magnitude quase sem precedentes na história da humanidade”, estima Yifei Li, especialista em meio ambiente da Universidade de Nova York em Xangai.
A regulamentação chinesa determina às autoridades a responsabilidade pela seleção, desinfecção, transporte e armazenamento desses resíduos antes de descarte, geralmente por incineração. No entanto, muitas comunidades locais, por não não saberem como tratar essa grande quantidade de resíduos, simplesmente os destinam aos aterros sanitários.
Num momento em que tenta alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060 (meta ambiciosa especialmente por conta da forte dependência do país ao carvão), a generalização dos testes representa um novo desafio ambiental.
Preocupação mundial
O descarte correto de resíduos hospitalares já era um problema antes da pandemia de Covid-19 e se agravou nos últimos dois anos. Os mais de 8 bilhões de doses de vacina aplicadas globalmente produziram 143 toneladas de resíduos extras na forma de seringas, agulhas e caixas de segurança. Tudo isso sem contar as compras feitas diretamente por cada um dos países. “A Covid-19 forçou o mundo a contar com as lacunas e aspectos negligenciados do fluxo de resíduos e como produzimos, usamos e descartamos nossos recursos de saúde, do berço ao túmulo”, afirmou Maria Neira, diretora de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS.
Como resolver o problema?
A OMS sugere medidas práticas a serem incluídas no dia a dia dos profissionais de saúde e ações de gestão mais preocupadas com a questão ambiental a curto prazo e longo prazo.
As recomendações incluem o uso de embalagens e transporte ecológicos, EPIs reutilizáveis, materiais recicláveis ou biodegradáveis; investimento em tecnologias de tratamento de resíduos, logística reversa para apoiar o tratamento centralizado e investimentos no setor de reciclagem para garantir que materiais, como plásticos, possam ter uma segunda vida útil.
Como todos os setores da sociedade, a saúde também passa por uma pressão crescente para reduzir a emissão de carbono e minimizar a quantidade de resíduos enviados aos aterros sanitários. É urgente diminuir os efeitos ambientais desses resíduos hospitalares por meio de fortes políticas e regulamentos nacionais, monitoramento e apoio à mudança de comportamento.
Fontes: Noticias R7 | Exame | G1