A destinação correta do esgoto é um problema comum enfrentado pelas cidades brasileiras. A boa notícia é que pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) encontraram benefícios em adubos desenvolvidos a partir do lodo de tratamento de esgoto, tendo resultados positivos na sua utilização como fonte de nutrientes para culturas de milho e soja no solo do Cerrado.
A pesquisa foi realizada pelo Grupo de Estudo em Nutrição, Adubação e Fertilidade do Solo (Genafert) do campus Ilha Solteira da Unesp, com liderança do professor Thiago Nogueira e avaliou diferentes circunstâncias, incluindo a busca da dose mais adequada para aplicação nas plantações, a periodicidade e a forma mais efetiva de utilização, além de identificar as culturas que tiveram melhores resultados após usar o composto orgânico.
Legislação dificulta aplicação
De acordo com Nogueira, o lodo do esgoto é rico em matéria orgânica e fonte de macro e micronutrientes para as plantas, como nitrogênio, fósforo, cobre, ferro, manganês e zinco. Por isso, já era apontado como um potencial subproduto para aplicação como adubo na agricultura desde a década de 1980.
No entanto, a preocupação com o risco de o resíduo contaminar o solo e as plantas com metais pesados, além de carregar vírus e outros microrganismos patogênicos, acabou limitando a sua aplicação para essa finalidade.
Nesse aspecto, os resultados do estudo devem incentivar novas pesquisas com o objetivo de ampliar a utilização desse tipo de adubo em larga escala e a longo prazo.
Produtividade acima da média
Em um das etapas da pesquisa, conduzida por Adrielle Rodrigues Prates em seu projeto de mestrado, foi constatado que a aplicação do composto proveniente do tratamento de esgoto aumentou a concentração de micronutrientes no solo e nas folhas, além de elevar a produtividade da soja em 67%, quando comparada com a média brasileira.
“O solo do Cerrado é uma região em que normalmente a fertilidade é baixa, onde os limites e nutrientes são baixos, e o que ocorre é uma limitação na produção das culturas. Então [nesta fase do estudo] o foco foi utilizar esse composto como fonte de micronutrientes, atrelado com adubação mineral convencional, e também estudando a forma de aplicação – em área total ou nas entrelinhas das culturas -, qual seria a melhor forma de aplicação e a melhor dose”, explicou Adrielle.
Após a colheita da soja, os pesquisadores também realizaram a semeadura do milho para estudar o efeito residual do adubo em uma segunda cultura. Com isso, conseguiram um aumento de 100% da produtividade em relação à média nacional.
Ainda assim, Adrielle reforça a importância de se estudar por mais tempo a aplicação desse tipo de composto para entender como o solo irá se comportar, evitando eventos de contaminação nas culturas: “É importante, além da pesquisa pela melhor dose e o melhor modo de aplicação, esse estudo a longo prazo, para ver como que está a saúde desse solo, como que vai ficar o aumento dos teores [de nutrientes].”
Alternativa sustentável
Além de aumentar a produtividade de plantações, o desenvolvimento de adubos a partir do tratamento de esgoto tem sido apontado como uma alternativa sustentável.
Isso porque o processo de compostagem é capaz de eliminar microrganismos causadores de doenças, além de tornar indisponíveis os metais pesados para a planta. Nesse sentido, há um risco ambiental muito menor.
Além disso, atualmente, o lodo de esgoto é comumente descartado em aterros sanitários, que recebem um grande volume de matéria orgânica. Mesmo assim, infelizmente, ainda é comum que o material seja descartado incorretamente em rios e outros corpos hídricos, aumentando a poluição ambiental.
Ao utilizar o lodo de esgoto como adubo, garantimos um destino final adequado ao resíduo. Portanto, como o estudo indica, beneficiamos não apenas a agricultura, como também o planeta.
Fontes: Um Só Planeta | CPT | Agência Brasil